A torcida está ganhando de goleada

A torcida está ganhando de goleada 550 345 Instituto Palavra Aberta

Francisco Viana*

Dois cenários adversos pareciam se combinar. No plano internacional, não podia existir clima mais negativo. A mídia argumentava: iria haver protestos em massa durante a Copa do Mundo.

A insegurança ameaçava o turista, o brasileiro estava mais acostumado a ver a seleção jogar pela televisão do que ir aos estádios, e havia a disparada dos preços, sobretudo das hospedagens. O clima era gelado e não existiam sinais de que mudaria. Quando os jogos começaram, a realidade teimou em desmentir as expectativas de fracasso. E o que se viu foi uma torcida, brasileiros e visitantes, ganhando de goleada.

Houve protestos, sim. Houve problemas de comportamento do público na abertura dos jogos em São Paulo, também sim. Contudo, o que predominou foi um grande espetáculo de confraternização democrática que só poderá ser avaliado em todas as suas dimensões depois que este evento chegue ao fim. Por enquanto, o que se tem visto é bola nas costas para a violência e gols em profusão a favor da paz. O País vestiu-se de verde e amarelo. É como se os problemas fossem, subitamente, esquecidos e a sociedade parasse para aproveitar um evento inédito que há 64 anos não acontecia no Brasil.

Os estádios estão lotados, as praças públicas, os bares e em todo local onde há jogo não faltam torcedores. As nacionalidades se misturam. Há festa, alegria e entusiasmo. E os visitantes têm se sentido em casa. Sejam nos bairros boêmios da capital paulista, no Pelourinho, em Salvador, nas praias do Rio de Janeiro, Recife e Fortaleza, enfim, em toda parte se vê o espetáculo da integração. Em campo e nas arquibancadas, a violência tem merecido cartão vermelho. Prova disso, foi a severa punição da Fifa para a principal estrela argentina, Luis Suárez, que mordeu o jogador italiano e, logo, mereceu o repúdio. Claro, houve manifestação de protestos, mas foram atos isolados.

Pode-se afirmar que o torcedor vem sendo o melhor da copa. Mesmo com as emoções despertadas nos últimos jogos, muitos vencidos nos momentos finais, inclusive no caso da classificação do Brasil. Quando a Copa passar, não há dívidas de que o mundo terá uma ideia melhor e mais otimista do nosso país. Está em curso, e esse é um forte dividendo dos jogos, uma narrativa de nação nascida da própria sociedade. Uma nação que enfrenta problemas, mas se empenha em resolve-los. Uma grande nação democrática, pacífica, que reivindica um novo lugar no mundo.

Isso não é tudo. Sente-se que o brasileiro quer viver as diferentes faces da liberdade, o que é muito positivo. Quer o direito de construir um País livre, onde possa protestar e aplaudir, quer torcer, viver a vida, os momentos, quer fazer da história um movimento contínuo. A lição que fica é de que não falta energia ao País. A própria imprensa internacional noticiou a mudança. E reconhece que a Copa será vitoriosa. A mídia francesa foi a primeira, certamente, a perceber que o Brasil lidou bem com os problemas e soube superá-los. O tema virou manchete dos jornais de lá e se espalhou pela Europa.

Terminada a Copa virão as eleições. Então, será um jogo diferente. Será a sétima eleição livre no Brasil. São eventos – a etapa final da Copa e as eleições de outubro – que farão os corações pulsarem profundamente. O ideal é que não se misturem. E tudo indica que não se misturarão. Copa é Copa, eleição é eleição. Essas parecem ser as vozes que vêm das ruas. E, claro, dos estádios.

* Francisco Viana é jornalista e mestre em Filosofia Política (PUC-SP)

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