Conscientização pelas ondas do rádio

Conscientização pelas ondas do rádio 1024 557 Instituto Palavra Aberta

Francisco Viana*

O cineasta Orson Welles protagonizou involuntariamente uma das maiores fake news da história. O calendário marcava 30 de outubro de 1938, por volta das nove da noite, quando as rádios da rede norte-americana CBS anunciaram que uma nave extraterrestre tinha pousado na pequena localidade de Grovers Mill, a 70 quilômetros de Nova York. Os ouvintes, perplexos, souberam da “notícia “de que havia uma invasão de marcianos, que milhares de pessoas tinham morrido e que grassava muita destruição.

Nada mais falso. Na realidade, o que estava sendo apresentado naquela noite, véspera do Dia das Bruxas, era uma dramatização nos moldes do rádio teatro de uma obra de ficção científica A guerra dos mundos do inglês Herbert George Wells, publicado em 1889. Protagonizava a apresentação o então desconhecido diretor de cinema, de 23 anos, Orson Welles, que ficaria famoso com o clássico Cidadão Kane. De tão realista, a narrativa causou comoção e o programa foi revirado do ar.

O episódio mostra a força impressionista do rádio. E foi lembrado em Salvador na Techdays – Encontro de Tecnologias para o Rádio Negócios, com a participação de uma centena de profissionais de rádio.

Houve muito debate e participação sobre os males e efeitos negativos das fake news, a mentira com jeitinho de verdade. Surgiu a ideia, encampada pelo Rede Bahiana de Rádio, com diversas rádios no interior, de discutir amplamente o tema.

O ponto de partida será neste fim de mês, dia 29, na rádio Andaia, em Santo Antônio de Jesus. Serão três horas de debates, com a participação da sociedade e instituições como a Associação Baiana de Imprensa e a Ordem dos Advogados da Bahia.

O debate é pioneiro e abre as portas da rádio para o combate às fake news. O veículo que pela sua instantaneidade e impressionismo, poderia ser comparado à Internet, terá papel dos mais relevantes nas eleições de outubro.

Permite, por outro lado, que se observe e combata as fake news nas pequenas cidades do interior. Não só no âmbito da política, mas também no campo dos negócios e da reputação das pessoas e empresas.  O problema das fake news é justamente esse: os impactos que causam, mesmo que logo desmentidas. E no interior, não adianta negar: o rádio reina soberano.

Oportuno seria que a iniciativa da Rede Bahiana de Rádio fosse replicada para as cidades do interior de todo o país. Como uma iniciativa verdadeira. Pois fake news não mete medo. Contra elas, basta a comunicação de qualidade, mesmo que numa pequenina cidade.

*Francisco Viana é jornalista e doutor em Filosofia Política (PUC-SP).

 

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