Censura ainda é ameaça ao jornalismo no Brasil

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Casos como o da decisão judicial contra o ”Estado” revelam persistência de obstáculos para o livre exercício da divulgação de informações no País

Gabriel Manzano – O Estado de S.Paulo

Filipe Araujo/AE

Desafio. Bucci, Hélio Beltrão, Gazzi e Abramo (da esquerda para a direita): mídia enfrenta pressão

O caso da censura imposta ao Estado pelo Judiciário “é emblemático de como é difícil, atualmente, fazer jornalismo investigativo no País”. E isso “é uma pena”, porque o Brasil vive “um cenário de amplas liberdades como há muito não se via”. A avaliação é do diretor de Desenvolvimento Editorial do Estado, Roberto Gazzi, que participou ontem do Fórum Democracia e Liberdade, promovido pelo Instituto Millenium em São Paulo para marcar o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa.

A afirmação foi dada durante debate sobre Jornalismo Investigativo e Democracia, em mesa na qual estavam o jornalista Eugênio Bucci e Cláudio Weber Abramo, da ONG Transparência Brasil. Em discussão, os desafios que enfrentam os jornais, tendo de custear a busca de informação e enfrentar pressões de setores contrários às investigações.

Abramo e Bucci fizeram depoimentos pouco otimistas. O primeiro destacou que “cerca de 80%” dos 820 jornais diários brasileiros são de cidades pequenas e dependem de dinheiro público. “Essa imprensa está nas mãos dos caciques em cada região”, citando como exemplos “Sarney, Collor, Jader Barbalho, Alves ou Maia, Tasso”.

Bucci citou a morte de Osama Bin Laden para questionar a transparência das informações: “Como saber em que condições aquilo realmente ocorreu?”. E cobrou transparência das próprias empresas, principalmente a respeito de suas fontes de receita, já que, ressaltou, parte da publicidade é paga por estatais. “Como falar em jornalismo investigativo nessa condição?”

Gazzi afirmou que “os jornais nunca foram tão lidos como agora”, já que as notícias do papel vão para a internet e as redes sociais. Mas financiar a produção é difícil, pois “a internet contribuiu para que o público achasse que a informação é de graça”. E disse que “a pressão da sociedade vai fazer com que liberdade de imprensa seja preservada”.

Liberalismo. No painel sobre Capitalismo de Estado e Democracia, os palestrantes Demétrio Magnoli, Alberto Carlos Almeida e Rodrigo Constantino criticaram a fraqueza da oposição brasileira e o excesso de intervenção estatal na economia. “O Brasil confunde liberalismo com conservadorismo”, disse Almeida.

Fonte: O Estado de S.Paulo, 4 de maio de 2011

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