Dica da Semana

Dica da Semana 630 345 Instituto Palavra Aberta

O-Segundo-Sexo-_-Edicao-Nova-FronteiraPublicado originalmente em 1949, o livro O Segundo Sexo, de Simone de Beauvoir, continua atual e coincide com o momento em que a sociedade se rebela contra a violência e o tratamento que a mulher ainda vem sofrendo.

“Mulher? É muito simples, dizem os amadores de fórmulas simples: é uma matriz, um ovário, uma fêmea, e esta palavra basta para defini-la. Na boca do homem o epíteto fêmea soa como um insulto. No entanto, ele não se envergonha de sua animalidade, sente-se, ao contrário, orgulhoso se dele dizem: é um macho! O termo fêmea é pejorativo, não porque enraíze a mulher na natureza, mas porque a confina no seu sexo.” Essas contundentes palavras estão na clássica obra O Segundo Sexo, de Simone de Beauvoir, relançada recentemente no Brasil pela editora Nova Fronteira, em dois volumes com edição sofisticada.

O momento não seria mais oportuno visto que coincide com o momento em que a sociedade se rebela contra a violência e o tratamento que a mulher ainda vem sofrendo. Tanto que, infelizmente, crescem as estatísticas de estupros, espancamentos e assassinatos.

Batizada como Simone Lucie-Ernestine-Marie Bertrand de Beauvoir, nasceu em Paris em 9 de janeiro de 1908. Foi escritora, intelectual, filósofa existêncialista, ativista política, feminista e teórica social francesa. Seu posicionamento na época influenciou significativamente os movimentos feministas. Faleceu em 14 de abril de 1986 na sua cidade natal.

Nessa obra, ao ousar mostrar que a mulher não é inferior e nem superior ao homem, mas vítima de um preconceito que envolve os dois sexos, ela definiu uma vida incomum: o confronto permanente com o meio social, iniciado em 1949, data da publicação original do livro que foi a bíblia da liberdade feminina. Ela argumenta: “Criada depois de Adão, é evidentemente um ser secundário, dizem uns, ao contrário, dizem outros, Adão era apenas um esboço e Deus alcançou a perfeição do ser humano quando criou Eva. Seu cérebro é o menor, mas é relativamente o maior, e se Cristo se fez homem foi possivelmente por humildade. Cada argumento sugere imediatamente seu contrário e não raro ambos são falhos… Se quisermos ver com clareza, devemos sair desses trilhos. Precisamos recusar as noções vagas de superioridade, inferioridade, igualdade que desvirtuam todas as discussões e reiniciar do começo”.

Esse o centro da questão. Segundo a escritora, de Aristóteles a Descartes e Nietzsche, de Hegel a Karl Marx, a mulher sempre foi vista como um ser menor; o que a Revolução Industrial teimou em dizer o contrário abriu as portas do mercado de trabalho e, com isso, trouxe à luz suas reivindicações.

E o mundo mudou, desde então. É cada vez maior o número de mulheres autônomas que trabalham e são reconhecidas. Contudo, o machismo permanece e suas raízes precisam ser extirpadas. É isso que rejuvenesce e torna atual o livro, que em uma de suas epígrafes Simone cita Pitágoras: “Há um princípio bom que criou a ordem, a luz e o homem, e um principio mau que criou o caos, as trevas e a mulher”. A filósofa quer mais do que demolir esse preconceito histórico. Ambiciona, sim, transformar a liberdade no caminho seguro para a independência social da mulher.

Boa leitura!

    Utilizamos cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar a sua experiência em nossa plataforma. Ao continuar navegando, você concorda com as condições previstas na nossa Política de Privacidade.