A complexidade dos índices de liberdade de imprensa

A complexidade dos índices de liberdade de imprensa 150 150 Instituto Palavra Aberta

Por Carl Bialik (The Wall Street Journal)

Tradução, Edição e Publicação: Observatório da Imprensa

A Turquia é o país que mais prende jornalistas no mundo, segundo levantamentos de diversos grupos de defesa da mídia, como o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ). Mas quando são considerados índices mais amplos de liberdade de imprensa, como os produzidos pelas organizações Repórteres Sem Fronteiras e Freedom House, o país está longe de ser o pior transgressor. Dos 179 países na lista da Repórteres Sem Fronteiras em 2013 em relação à liberdade de imprensa, 25 estavam abaixo da Turquia. Dos 197 países ranqueados pela Freedom House, 72 foram considerados como tendo menos liberdade da mídia do que a Turquia.

O que normalmente se esquece de levar em conta é que um país que tem muitos jornalistas presos é um país com muitos jornalistas produzindo cobertura que não agrada ao governo. “Há casos como a Coreia do Norte, que não aparece na lista do CPJ, mas tem as medidas mais opressivas em relação à mídia de todo o mundo”, diz Jennifer Dunham, analista de pesquisa da Freedom House em Nova York. “Simplesmente, não há jornalistas para ser presos”.

O governo turco contesta ser considerado o país que mais prende jornalistas, alegando que a maior parte das detenções não tem relação com a profissão – em geral, estes profissionais são presos por membros de organizações consideradas terroristas pelo governo. “Só porque uma pessoa que tem uma credencial de imprensa está na prisão não significa que a Turquia esteja censurando o jornalismo”, argumenta um funcionário do Ministério de Relações Exteriores do país.

Grupos de defesa da liberdade da mídia discordam, alegando que seus pesquisadores analisam documentos jurídicos e entrevistam fontes para separar os jornalistas cujas prisões foram relacionadas ao trabalho. Por isso, na opinião de Joel Simon, diretor-executivo do CPJ, é um “absurdo” juntar o número de jornalistas na prisão com o nível de liberdade de imprensa de um país. “Olhamos todas as evidências”.

Desafios das listas

A complexidade de se analisar as detenções de jornalistas é refletida nas discrepâncias nas contagens dos jornalistas turcos presos. Em seu último relatório, a Repórteres Sem Fronteiras afirmou que pelo menos 42 dos 72 jornalistas presos foram detidos por conta de seu trabalho de apuração e disseminação de informações. Em dezembro, a CPJ chegou ao número de 49 e atualizou para 48 em abril, antes dos recentes protestos no país.

Outro desafio ao produzir contagens é que elas mudam rapidamente. Um país que frequentemente prende e solta repórteres pode não ter tantos presos em um determinado momento quanto outro que prende poucos jornalistas por um longo período. Ainda assim, o primeiro pode causar muito mais pânico em jornalistas.

Para tentar lidar melhor com essa questão, o professor-assistente de jornalismo da Universidade Northwestern no Catar, Justin D. Martin, propôs uma medida per-capita de jornalistas presos. Se isso for aplicado na contagem total mais recente do CPJ, a Eritreia será o país mais repressivo e a China cairia do terceiro para o 24º lugar. Alguns grupos são contra tal proposição, pois a prisão de cinco jornalistas, por exemplo, pode ter o mesmo efeito repressor, não importa o tamanho do país.

Tanto a Repórteres Sem Fronteiras como a Freedom House produzem medidas mais amplas de liberdade de imprensa, com base em uma série de fatores incluindo prisão e assassinato de jornalistas, ambiente legal e nível de pluralismo na mídia do país. Esses rankings diferem de maneira muito tênue. A Repórteres Sem Fronteiras, por exemplo, enfatiza jornalistas presos, o que ajuda a explicar por que a Turquia está mal na sua lista.

    Utilizamos cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar a sua experiência em nossa plataforma. Ao continuar navegando, você concorda com as condições previstas na nossa Política de Privacidade.