Por uma agenda de consenso e de ação

Por uma agenda de consenso e de ação 630 345 Instituto Palavra Aberta

* Francisco Viana

Muitos autores e ideias frequentaram o seminário Dialogar para Liderar, organizado pela Aberje e o Correio Braziliense, que teve como objetivo reavivar no âmbito da comunicação organizacional o diálogo e liderança.

Platão, Aristóteles e Homero, Montaigne, Max Weber, Hannah Arendt, Maquiavel, Leonardo Bruni, Shakespeare, Cícero e Ernest Bloch e, além dos conceitos de virtù – virilidade no sentido humano e não apenas masculino –, ética, riscos e soluções para os problemas cotidianos, foram alguns dos muitos autores e ideias que frequentaram o evento, que aconteceu dia 24 de fevereiro em São Paulo.

Da abertura, com o ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, Edinho Silva, e o diretor-presidente dos Diários Associados, Álvaro Teixeira da Costa, ao encerramento, pelo filósofo Renato Janine Ribeiro, as discussões que envolveram também os temas da teoria, prática e novas mídias, estas protagonizadas pelo professor Adriano Machado Ribeiro (USP), e Paulo Marinho, presidente do Conselho da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje), as teses foram se somando umas às outras, resultando em um rico e proveitoso debate em torno da comunicação nos dias atuais. Um painel heterogêneo não só nas ideias, mas nos sistemas políticos. Plural e democrático como é hoje a sociedade brasileira.

Os autores em cena deram profundidade e substância aos debates. Trouxeram para o centro das discussões os critérios históricos de diálogo e liderança e amplificaram a atualidade de diferentes versões e entendimentos. Com Platão, Aristóteles e Homero, por exemplo, vieram à tona os fios robustos do diálogo que se projetaram da ágora da Antiga Grécia, a assembleia de cidadãos, para o Renascimento e os dias atuais em que, ao contrário do passado, não são vetadas as mulheres, as crianças, os excluídos (antes os escravos) e os estrangeiros. Nesse passeio pelos tempos antigos e modernos, guiado pelas sábias mãos do professor Adriano Machado, a tese é prática: o insulto, a ausência de argumentos, a briga de rua e o mercadejar das ilusões, são doenças da linguagem. Para haver diálogo são indispensáveis a razão, os argumentos e o respeito ao outro. Se o outro não é reconhecido como interlocutor, não haverá diálogo.
Daí, certamente o fato de Cícero apontar o diálogo como construtor da democracia. Dai, certamente o ministro Edinho Silva ter destacado a construção de ideias hegemônicas como o grande desafio do século XXI. E, sem dúvida, as chaves para a saída da crise brasileira. Não se trata de uma guerra de todos contra todos, mas da construção de uma agenda de consenso. A ideia é atual pela razão objetiva de que se não há diálogo, há autoritarismo. E o País não mais acredita no monólogo autoritário. O diálogo constrói, por mais árduo que seja. O autoritarismo destrói porque é uma repetição do passado. E se o passado se repete não há avanços, quem não avança, evidentemente recua, sobretudo na era do tempo real.

Existem pressupostos básicos para dialogar e liderar. Foi a virtù que fez do império romano o primeiro império mundi. Os romanos cultivavam a utopia de superar a si próprio, vencer, unir os povos e estabelecer a paz romana, com o respeito pela cultura dos adversários. A lógica da virtù – que nada tem em comum com virtude – faz falta, e como, no momento presente. Dela emanam a ética, a gestão de riscos e a busca de soluções para os muitos impasses que temos vivido. Sim, há necessidade de novos prismas identificatórios do presente. O filósofo Renato Janine Ribeiro (que foi ministro da Educação) abordou o tema da virtù, da especialidade brasileira de adiar a solução de problemas e do desafio que é dialogar. Paulo Marinho, que o antecedeu falou da necessidade dos interlocutores respeitarem a si mesmos e respeitarem o próximo. O professor e jornalista Eugênio Bucci, debatedor na abertura do evento, sintetizou: a crise é sinônimo da ausência de diálogo.

O mediador do seminário, Caio Túlio Costa, fez a mesma pergunta a todos os palestrantes e debatedores: se consultados pela presidente Dilma Rousseff qual a estratégia do diálogo que ela deveria seguir para liderar, o que sugeririam? Guardadas as proporções, variando de interlocutor, a resposta não foi muito diferente: a presidente precisa dialogar e agir. Ou melhor, agir como resultado do diálogo. O diálogo não é um recurso vazio. Se a política, como disse Hannah Arendt, se faz pelas palavras, a transformação social se faz pela ação. E o Brasil, hoje, precisa de ação em todas as frentes. Pela ação a política e o governo podem resgatar o prestígio perdido. Contra a inércia, a ação seria a argamassa do diálogo e do ato de liderar.

É essa característica, a ação, que precisa ser recuperada no diálogo e na liderança, apontou o evento. Recuperá-la e tratar da construção da reputação positiva, segundo Maquiavel, e da parte humana do ser, segundo Shakespeare. É fazer do conjunto narrativo da vida política uma comunicação coerente com o bem comum. Com a teoria servindo a prática e a prática servindo a teoria. Iniciativas como esta, organizada pelo Correio Brasiliense e a Aberje, precisam se repetir em todo o País, nos Estados e municípios. A cultura da ação precisa empolgar os brasileiros, a começar pelos comunicadores.

* Francisco Viana é doutor em Filosofia Política (PUC-SP), jornalista e consultor de comunicação.

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