O que as tendências para o futuro nos indicam sobre a educação midiática de hoje
O que as tendências para o futuro nos indicam sobre a educação midiática de hoje https://www.palavraaberta.org.br/v3/images/RDNE-Stock-project-1024x683.jpg 1024 683 Instituto Palavra Aberta https://www.palavraaberta.org.br/v3/images/RDNE-Stock-project-1024x683.jpg* Mariana Ochs é coordenadora de educação do EducaMídia, programa de educação midiática do Instituto Palavra Aberta
No embalo do festival SXSW, realizado no Texas para discutir tendências e inovação, é oportuno pensar sobre as novas demandas para a educação. “Educar os jovens para um futuro incerto” tem sido o mantra há algum tempo. Com a aceleração das inovações tecnológicas e da crise ambiental, no entanto, não sabemos mais se a frase se refere ao ineditismo das profissões que virão, ou à incerteza das próprias condições em que viveremos. O certo é que as transformações tecnológicas, sobretudo no ambiente da produção e circulação de informações, acrescentam nova camada de complexidade aos problemas globais. E, por isso, a educação midiática tem papel urgente a cumprir.
O ambiente informacional apresenta desafios que vão do acesso a informações confiáveis à reprodução de injustiças estruturais. As mesmas inovações que podem otimizar o trabalho e potencializar a criatividade também podem ampliar desigualdades; as mesmas redes que podem conectar e dar voz a grupos minoritários também podem separar comunidades em ambientes polarizados e estimular a violência.
O que seria, então, uma educação midiática capaz de fortalecer os jovens frente às transformações em curso e as já vislumbradas? Dialogamos com um chatbot de IA e, a partir das tendências do Tech Trends 2024, um importante relatório do Future Trends Institute, traçamos as seguintes implicações para a educação:
Multiplicidade de plataformas para consumo de notícias: as novas gerações buscam cada vez menos mídias tradicionais como TV ou sites, preferindo redes sociais, aplicativos de mensagens e plataformas de compartilhamento de vídeos. Essa tendência exige habilidades de análise crítica nos vários ambientes e compreensão de seus aspectos econômicos.
Predominância de conteúdo visual e interativo: há forte preferência por esse tipo de conteúdo, no lugar de texto. A educação midiática deve incorporar análise e compreensão dos meios visuais, ensinando a avaliar criticamente imagens, vídeos e conteúdos interativos para determinar credibilidade e apontar motivações e vieses.
Influência dos algoritmos de personalização: a personalização crescente de conteúdos nas plataformas de notícias e redes sociais pode nos afastar de visões diversas ou amplificar desinformação ou preconceitos. É fundamental educar os estudantes sobre o impacto dos algoritmos, bem como ensiná-los a acessar uma gama maior de perspectivas de forma intencional.
Ampliação do letramento digital: habilidades como busca eficaz de informações, avaliação da credibilidade das fontes e compreensão sobre privacidade no ambiente digital são essenciais. Mas também precisamos desenvolver habilidades críticas em relação às inteligências artificiais, sobretudo quanto às premissas incorporadas e seus impactos socioculturais. O currículo escolar deve abordar essas habilidades de forma transversal e contínua.
Poluição do ambiente informacional: com a proliferação de desinformação e deep fake, bem como a automatização da criação de conteúdos rasos, feitos para engajar, é fundamental desenvolver o pensamento crítico e habilidades de verificação. Os estudantes precisam aprender a usar ferramentas de checagem, adotar a referência cruzada de informações e reconhecer sinais de conteúdo falso ou enganoso.
Capacidade de criação de conteúdo e engajamento: as gerações mais jovens não são apenas consumidores mas também criadores de conteúdo, com potencial de alcançar grandes audiências. A educação midiática deve incluir considerações éticas na criação de conteúdos (inclusive com IA), compreensão sobre o impacto da nossa pegada digital, e discussões sobre direitos e responsabilidades na internet.
Empatia e escuta ativa nas interações digitais: se as plataformas digitais são os espaços centrais em que interagimos, é vital ensinar empatia, escuta e comunicação respeitosa. Isso inclui lidar de forma pacífica com divergências, compreender outras perspectivas e avaliar o impacto de nosso comportamento online.
Tudo isso reforça a natureza dinâmica da educação midiática, que deve acompanhar o cenário em transformação e reconhecer o papel importante da tecnologia na vida de jovens e crianças. Os currículos escolares precisam evoluir continuamente – pois o futuro pode ser incerto, mas nele certamente ainda seremos chamados a lidar com o mundo digital de forma consciente, responsável e construtiva.
(Foto: RDNE Stock project/Pexels)