Semana de educação midiática celebra iniciativas contra desinformação

Semana de educação midiática celebra iniciativas contra desinformação 768 430 Instituto Palavra Aberta

* Jonas Santana é analista de comunicação do Instituto Palavra Aberta

Entre 23 e 27 de outubro, ocorreu a primeira edição da Semana Brasileira de Educação Midiática. Organizada pela Secretaria de Comunicação Social (Secom) da Presidência da República, é a versão do Brasil da Global MIL Week, evento mundial da Unesco sobre alfabetização midiática e informacional. No país, a semana fez parte fundamental da promoção à educação para a democracia e coroou o aumento do interesse público no assunto.

A partir do Decreto 11.362, de 1º de janeiro de 2023, foi criado o inédito departamento aos direitos na rede e à educação midiática, pertencente à Secom. Uma semana depois, a sua existência se legitimou ainda mais, com os atos golpistas em Brasília (DF), impulsionados por desinformação e conteúdos antidemocráticos disseminados nas redes sociais.

O fortalecimento da educação midiática no Brasil também é um impacto da inclusão do tema na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), em 2018. O documento, que seleciona os tópicos imprescindíveis que devem ser ensinados na sala de aula, definiu na competência “Cultura Digital” assuntos relacionados à educação midiática no ensino básico. Além disso, a temática passou a estar presente no campo de atuação jornalístico-midiático, que faz parte do componente Língua Portuguesa nos ensinos fundamental e médio.

A educação midiática tem sido defendida em diversas oportunidades inclusive pelo atual presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso. Em sua posse, realizada em setembro, o mandatário citou o tema ao responder jornalistas sobre o projeto de lei que visa combater as “fake news”: “Nós precisamos de educação midiática nessa matéria e informar as pessoas que elas não devem repassar informação cuja procedência desconhecem ou cuja autenticidade não puderam confirmar”.

Antes, o STF, ainda presidido pela ministra Rosa Weber, já se mobilizava na realização de eventos para debater o assunto com seus próprios ministros e entidades da sociedade civil. Um exemplo disso foi o Seminário Combate à Desinformação e Defesa da Democracia, também em setembro, que contou com a presença da presidente do Instituto Palavra Aberta, Patricia Blanco.

Apesar de apenas iniciativas do poder público receberem grande atenção da imprensa, é importante ressaltar que sementes já estão sendo plantadas e frutos, colhidos. Alguns profissionais formados no curso de multiplicadores do programa EducaMídia estão desenvolvendo ações em suas comunidades locais.

A professora Regiane Silva de Araujo, da cidade de Seabra (BA), por exemplo, baseou-se nos materiais da formação para construir o projeto “Desconstruindo Estereótipos”, com alunos da educação básica. O objetivo foi quebrar preconceitos através de reflexões sobre reportagens que abordavam formas de discriminação. A partir de discussões em sala de aula, os alunos fizeram poesias para denunciar as narrativas que alimentam a ideia de democracia racial repercutidas na imprensa. A produção dos estudantes rendeu um livro.

Essa atividade mostra que, assim como a desinformação afeta toda sociedade, seu combate deve alcançar todas as camadas sociais por meio da educação, que tem um papel fundamental nessa luta. Além disso, expõe como pequenas ações podem trazer grandes reflexões sobre a mídia que vão impactar e conscientizar futuras gerações.

A Semana de Educação Midiática acabou e precisa ser celebrada, porque o tema tem sido tratado com a seriedade que ele merece. Afinal, as consequências de ignorar esse tema já estão visíveis para todos. Valorizar e implementar a educação midiática é o melhor caminho para lidar com a infodemia vista no ambiente digital, que tem causado desastres sem precedentes para o mundo real. 

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