700 jornalistas mortos na última década

700 jornalistas mortos na última década 630 345 Instituto Palavra Aberta

Na última década registaram-se 700 mortes de profissionais de imprensa, alerta a organização Repórteres Sem Fronteiras. Os números revelam que é cada vez mais arriscado ser jornalista.*

O número de jornalistas detidos arbitrariamente, torturados e assassinados é uma tendência crescente no mundo. Na última década foram registadas 700 morte, informa o Repórteres sem Fronteiras. “Apesar dos esforços, muito mais deveria ser feito para acabar com a impunidade e proteger os jornalistas. Ouvimos diariamente novos casos de morte e isso é extremamente preocupante”, afirmou Delphine Halgand, diretora da organização Repórteres Sem Fronteiras, em Washington.

Na sede das Nações Unidas, ela defendeu que o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, deve indicar um representante para dedicar-se ao tema segurança aos jornalistas. “Somente um representante trabalhando com o secretário-geral terá força política e legitimidade para promover a mudança. Seu papel será monitorar o cumprimento e a implementação da obrigatoriedade de proteção pelos Estados-membros.”

Halgand ainda fez críticas, dizendo que apenas metade dos países onde jornalistas foram mortos responderam as solicitações da Unesco sobre as circunstâncias. “Irã, Iraque, Mali e Rússia são alguns dos que não responderam o pedido da Unesco. Agora é hora agir e ter uma verdadeira mudança”, reclamou.

Na segunda-feira (2), as Nações Unidas marcaram o Dia Internacional de Combate à Impunidade de Crimes Cometidos Contra Jornalistas com o lançamento, em Paris, do relatório “Tendências mundiais sobre Liberdade de Expressão e Desenvolvimento dos Meios 2015”. Segundo a Unesco, em média um jornalista é morto por semana no mundo e menos de 6% do total – 593 assassinatos de jornalistas (2006-2013) – foram resolvidos. Entre 2013 e 2014, 178 profissionais de imprensa foram mortos, sendo 87 em 2014. O ano mais fatal foi 2012, quando 123 casos foram registados.

Segundo o diretor do Centro Knight para Jornalismo nas Américas, o brasileiro Rosenthal Alves, e também presidente de uma rede que reúne todas as cátedras de Comunicação mantida pela Unesco, a maioria das mortes é de profissionais homens. “Dos 178 assassinatos, 92% são jornalistas homens. As regiões mais perigosas para se trabalhar no mundo hoje são o Médio Oriente e a América Latina.”

O mundo árabe teve 64 profissionais de imprensa mortos entre 2013 e 2014. Já na América Latina, foram 51 casos. Na Ásia e Pacífico, 30, e na África, 23. A maioria das mortes ocorreram com profissionais de televisão, 64, seguido dos profissionais da imprensa escrita e fotógrafos (61), e rádio (50).

Para Edric Selous, diretor do Estado de Direito Unidade na ONU, a imprensa tem um papel importante no cumprimento da agenda de desenvolvimento 2030, especialmente com a meta 16 de desenvolvimento sustentável, que tem a finalidade de promover sociedades pacíficas e inclusivas. “Para alcançar essa meta, é necessário assegurar a liberdade de expressão e de informação para um diálogo livre que envolva a sociedade. Combater a impunidade e garantir a proteção dos profissionais de imprensa é importante no contexto da nova agenda de desenvolvimento”, destacou.

Na opinião da representante da Lituânia na ONU, a embaixadora Raimonda Murmokaité, o assassinato de jornalistas deve ser considerado um crime de guerra. “A falta de transparência, em que 95% dos casos saem impunes, é um passe livre para matar jornalistas. Demonstra o quanto é perigosa essa profissão. Muitos pagam o preço pelo direito de termos acesso à informação.”

Segundo Murmokaité, a comunidade internacional precisa reconhecer os profissionais de imprensa como portadores de um importante papel de prevenção contra ações terroristas e atrocidades em massa. “Muitos atuam em zonas de conflito sem lei e podem ser alvo de terroristas. Apesar de as mulheres serem a minoria, é preciso considerar a dimensão de gênero na profissão. Elas estão ainda mais vulneráveis”, destacou.

* Fonte: Agência Lusa

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