Professores são fundamentais na defesa da democracia

Professores são fundamentais na defesa da democracia 1024 683 Instituto Palavra Aberta
Mariana Mandelli*

📸: Drazen Zigic

A notícia de que uma professora de educação básica de Ponta Grossa (PR) foi demitida por fazer uma saudação nazista viralizou nas redes sociais nos últimos dias. No vídeo, é possível ver uma mulher branca com uma bandeira do Brasil realizando o gesto em sala de aula, na frente de alunos e alunas. As imagens são chocantes não apenas por serem uma demonstração explícita e criminosa de ódio, mas também por ocorrerem em ambiente escolar, onde esperamos que educadores e educadoras formem crianças e jovens com base em princípios cidadãos e democráticos.

De acordo com a atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei Nº 9.394 de 1996), legislação que norteia o funcionamento de todo o sistema educacional brasileiro, o ensino deve se basear no pluralismo de ideias, no respeito à liberdade, no apreço à tolerância e na diversidade étnico-racial. Além disso, estabelece que os conteúdos curriculares da educação básica devem “difundir valores fundamentais ao interesse social, aos direitos e deveres dos cidadãos, de respeito ao bem comum e à ordem democrática”.

Ou seja, a LDB é orientada por valores incompatíveis com o nazismo, o fascismo e demais ideologias cujos preceitos orientam-se por ultranacionalismo, autoritarismo, eugenismo e racismo. Parece absurdo afirmar isso, mas vivemos em tempos em que o óbvio precisa ser resgatado, reafirmado e divulgado. Também conhecida como Lei Darcy Ribeiro, a LDB de 1996 foi pensada num momento em que se discutia os rumos do Brasil após duas décadas de ditadura. Que país queremos ser? Na resposta para essa pergunta estava o ensino e aprendizagem de crianças e jovens. Assim, em consonância com a então aprovada Constituição Cidadã, construiu-se uma ideia de educação pública, gratuita e democrática. 

Hoje, é na sala de aula que crianças e jovens têm seus primeiros contatos com opiniões, discursos e valores diferentes do que ouvem em seus lares e em outros espaços de socialização, como igrejas e equipamentos de lazer. É na escola que está garantido o direito à diversidade e à pluralidade de visões de mundo para formarmos cidadãos e cidadãs, e quem deve mediar esse processo são justamente os professores e professoras, figuras centrais mas tão pouco valorizadas social e politicamente, na contramão do que nossos dispositivos legais demandam. 

Educadores e educadoras devem, portanto, ser compreendidos como peças-chave num sistema democrático. Para isso, precisam de políticas públicas que fortaleçam demandas antigas da classe, como melhores salários e condições de carreira e trabalho, em níveis municipal, estadual e federal. E, para que formem crianças e jovens responsáveis e conscientes de seus direitos e deveres, necessitam também ser formados para tanto.

Diversas pesquisas apontaram, ao longo dos anos, os problemas crônicos da formação de professores no Brasil, e se a distância entre o que é oferecido nos cursos de Pedagogia e o que acontece em sala de aula já era enorme, é fato que se alargou ainda mais num cenário conectado e pandêmico, com tantas desigualdades socioeconômicas. Mitigar esse abismo é urgente para a qualidade da educação brasileira. 

Professores não serão substituídos por máquinas; eles são essenciais num mundo onde a informação parece abundante, mas nem sempre é confiável. São eles que orientam crianças e jovens no desenvolvimento de habilidades e competências que garantirão autonomia, pensamento crítico, fluência digital e participação cívica num contexto permeado pelo que nos acostumamos a chamar de “fake news”, teorias conspiratórias e conteúdos antidemocráticos. 

Em um momento tão crítico como o que vivemos no Brasil, em que direitos garantidos há décadas são distorcidos em prol de desinformação e discursos de ódio disfarçados de liberdade de expressão, cabe também à escola e aos educadores enfrentarem esses desafios. É nesse ambiente acolhedor e seguro que crianças e jovens poderão construir sua noção de cidadania, abertos ao diálogo e à conciliação.

 

*Mariana Mandelli é coordenadora de comunicação do Instituto Palavra Aberta

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