Monte um coletivo de checagem com seus alunos

Monte um coletivo de checagem com seus alunos 1024 1024 Instituto Palavra Aberta
Elisa Tobias*

📸: freepik.com

Entre janeiro e abril de 2022, o Brasil ganhou mais de 2 milhões de novos eleitores na faixa etária entre 16 e 18 anos que terão a oportunidade de votar pela primeira vez. E, para que a escolha entre os candidatos aconteça de forma consciente e responsável, é importante que a discussão sobre democracia aconteça desde cedo, o que obviamente inclui a escola. 

O espaço escolar pode estimular o debate de conceitos que fazem parte da formação cidadã. Considerando que os jovens fazem parte de uma geração que nasceu num mundo conectado, repleto de informações de todos os tipos, saber analisar de maneira cuidadosa as mensagens de mídia é essencial para uma vida autônoma. E isso contempla a escolha dos candidatos que irão representá-los.

Uma atividade que pode engajar os estudantes do ensino médio nesse tema é a montagem de um coletivo de checagem. Esta é uma boa alternativa pedagógica para o incentivo da análise plena de conteúdos e mensagens, levando em consideração a importância de se formar opinião a partir de fatos concretos.  

Uma curiosidade: foi justamente no período eleitoral que a história da checagem de informações teve seu início. Brooks Jackson, então jornalista da CNN, recebeu a tarefa de avaliar a confiabilidade da propaganda eleitoral dos candidatos à presidência dos Estados Unidos, em 1991. Mais de trinta anos depois, continuamos sugerindo a verificação das notícias como exercício da cidadania, já que a desinformação está cada vez mais presente. 

Vale lembrar que, no Brasil, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) prevê a educação política como uma obrigação das instituições escolares, assim como a noção de estado e as formas de organização social. Sabe-se, contudo, que falar de política na escola não tem sido uma tarefa fácil. É preciso garantir um espaço seguro de debate que estimule o pensamento crítico e opiniões baseadas em evidências. Por isso, o incentivo ao diálogo deve ser garantido, prezando pelo respeito e pela discussão acerca das instituições e da participação democrática como caminho para cumprir a BNCC e não tornar elevar os ânimos.

É importante que os estudantes conheçam o trabalho das agências de checagem para se inspirarem. Elas são organizações especializadas na verificação de informações e declarações, principalmente de políticos e outras autoridades. Aos Fatos, Lupa e Comprova são algumas das organizações brasileiras formadas por jornalistas que pesquisam, investigam e confrontam dados que têm impacto direto na vida dos cidadãos. 

Debates em que o tema seja a importância da checagem de fatos é um bom ponto de partida em sala de aula. Utilizar notícias verificadas por essas agências pode ser um exercício para que os estudantes treinem o olhar para suas primeiras investigações. Em pequenos grupos, informações importantes sobre notícias podem ser verificadas, como o endereço do site e a seção “sobre nós”, além da busca pela fonte primária da informação em discussão. Essas atitudes ensinam o aluno a interrogar a mensagem que recebe, evitando simplesmente tomá-la como verdadeira. 

Com o material checado em mãos, é hora de partir para a classificação. A maioria das agências de checagem utiliza um sistema de selos ou etiquetas para deixar bem claro o que é verdadeiro e o que é falso. A desinformação tem nuances, por isso é importante saber diferenciar o que é uma sátira de um conteúdo enganoso, por exemplo, criado para manipular. Etiquetas podem ser criadas com os alunos, utilizando algum editor de imagem online. Uma opção fora das telas, para escolas com dificuldades de conexão, é a criação de cartazes e selos impressos. Um mural também pode ser criado com as principais notícias verificadas pelos alunos e alunas.  

Ao final da verificação, os grupos podem criar, de forma coletiva, um manual com regras do que não pode faltar na metodologia do coletivo de checagem. A ideia é criar um documento simples, com orientações para que os estudantes possam utilizar em seu cotidiano ao encontrarem informações suspeitas, confusas ou imprecisas. 

O projeto #Fake To Fora, criado pelo Instituto Palavra Aberta, oferece em seu site um material gratuito com informações, protocolos e dicas para a criação de um coletivo de checagem em sua escola. Utilizando a hashtag do projeto nas mídias sociais, você verá a aplicação da iniciativa pelas escolas do Brasil, e poderá trocar experiências com professores e professoras de diversas redes. Assim, unindo esforços e utilizando o espaço escolar como local de debate e pluralidade de ideias, podemos dar mais um passo em direção ao fortalecimento da nossa democracia.  

*Elisa Tobias é educomunicadora e analista de comunicação do Instituto Palavra Aberta

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