Política pública para a educação midiática é destaque em 2023, diz presidente do Palavra Aberta

Política pública para a educação midiática é destaque em 2023, diz presidente do Palavra Aberta 1024 683 Instituto Palavra Aberta

O ano de 2023 foi um marco importante para o desenvolvimento da educação midiática no Brasil, sobretudo com a definição de uma política pública para o segmento, afirma a presidente do Palavra Aberta, Patricia Blanco. “Tivemos um grande avanço no campo da educação midiática, principalmente com a criação da Secretaria de Políticas Digitais e, dentro dela, o Departamento de Educação Midiática”, diz ela em entrevista para o site do instituto. Em paralelo, continua Patricia, o EducaMídia, programa de educação midiática do Palavra Aberta, se nacionalizou ainda mais. “Tivemos duas formações de multiplicadores com participantes de mais de 550 cidades dos 27 estados. Estamos falando de regiões do Brasil inteiro, cidades de todos os tamanhos”, comemora. 

Em relação às liberdades de imprensa e de expressão, cuja defesa também é tarefa do Palavra Aberta, o ano começou com dezenas de jornalistas agredidos nos ataques de 8 de janeiro, quando golpistas invadiram as sedes do governo federal, do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal (STF). Ao longo do ano, o cenário foi se normalizando, destaca Patricia, mas continua preocupante. “Os ataques e violências contra jornalistas e comunicadores praticamente fazem parte da rotina de todo profissional de comunicação, seja ele por assédio virtual – com ataques principalmente a jornalistas mulheres –, seja por uma falta do entendimento do papel do jornalista, o que promove entre esses profissionais uma sensação de insegurança”, afirma.

Confira abaixo a entrevista na íntegra.

Instituto Palavra Aberta – Qual o balanço que pode ser feito em relação às liberdades de imprensa e de expressão em 2023?

Patricia Blanco – O ano de 2023 foi muito desafiador, com grandes embates no âmbito da liberdade de imprensa e, principalmente, na segurança dos jornalistas. Já no início do ano, em 8 de janeiro, tivemos um marco muito triste na história da liberdade de imprensa no Brasil quando vimos mais de quatro dezenas de jornalistas e comunicadores, cinegrafistas e fotógrafos sendo atacados em decorrência dos atos antidemocráticos verificados naquele dia, em Brasília e em diversas capitais. Depois desses ataques tivemos uma melhora no ambiente, muito por conta da criação do Observatório de Violência contra Jornalistas e Comunicadores, da Secretaria Nacional de Justiça (do Ministério da Justiça e Segurança Pública), mas também pela mudança no tratamento dado por representantes do governo federal a jornalistas. Começamos de um episódio muito triste, melhora um pouco ao longo do ano, mas ainda sem solução definitiva. Os ataques e violências contra jornalistas e comunicadores praticamente fazem parte da rotina de todo profissional de comunicação, seja ele por assédio virtual – com ataques principalmente a jornalistas mulheres –, seja por uma falta de entendimento do papel do jornalista, o que promove entre esses profissionais uma sensação de insegurança.

Instituto Palavra Aberta – A liberdade de expressão está ameaçada, corre riscos?

Patricia Blanco – Não acho que estejamos correndo riscos de não termos um ambiente onde haja liberdade de expressão, mas eu acredito que temos que manter uma vigilância constante. Principalmente pela falta de entendimento sobre a nossa responsabilidade. O que temos visto é que muitas vezes a bandeira da liberdade de expressão, já de alguns anos para cá, tem sido utilizada para a prática de calúnia, difamação, desinformação e violência contra jornalistas ou contra qualquer um que queira participar do debate público e acaba sendo tolhido por conta do não entendimento de como exercer a liberdade de expressão com ética e responsabilidade.

Instituto Palavra Aberta – Como foi a atuação do Palavra Aberta frente a esses desafios?

Palavra Aberta – O instituto teve uma ação muito contundente. Primeiro, na manifestação de preocupação e de repúdio total a todo e qualquer tipo de agressão e violência contra jornalistas. Nós nos unimos a outras dez entidades numa coalizão em defesa da liberdade de imprensa e no combate a violência contra esses profissionais. O Palavra Aberta também teve uma atuação muito forte em disseminar o conceito do jornalismo e a importância da imprensa, buscando fazer com que a população entenda o papel crucial da atividade jornalística na defesa da democracia. O Palavra Aberta teve ainda firme atuação em ressaltar a tese da informação como bem público, a informação produzida pelo jornalismo profissional com método, seguindo critérios técnicos, com objetividade e levando a informação da forma mais precisa possível para o leitor, telespectador ou ouvinte. Tivemos também uma atuação forte junto ao TSE e ao STF, apoiando ações de combater a desinformação com vistas a melhoria do ambiente informacional e, com isso, o aumento do respeito às instituições. Além disso, atuamos por meio do programa de educação midiática do Palavra Aberta, o EducaMídia, mostrando a importância de construir uma audiência crítica. De fazer com que a população passe a entender corretamente a informação que chega até ela. Que saiba ler criticamente a informação, que saiba diferenciar conteúdos e, com isso, passe a valorizar o jornalismo e a imprensa como fundamentais para a democracia.

Instituto Palavra Aberta – Como foi o ano para a educação midiática?

Patricia Blanco – Tivemos, em 2023, um grande avanço no campo da educação midiática, principalmente com a criação da Secretaria de Políticas Digitais e, dentro dela, o Departamento de Educação Midiática, liderados pelo secretário João Brant, pelo Vitor Pimenta e pela Mariana Filizola. Esse departamento conseguiu, em curto espaço de tempo, criar um ambiente favorável para a articulação de ações interministeriais. Esse departamento atuou para disseminar a importância da educação midiática junto aos Ministérios da Cultura, de Direitos Humanos, da Saúde, da Justiça… e consolidou também a primeira versão da Estratégia Brasileira de Educação Midiática. Ou seja, depois de anos do Palavra Aberta pregando a ideia e a necessidade de se criar uma política pública, em 2023, tivemos a ótima notícia da criação de um departamento e a elaboração de uma política pública de educação midiática. Cabe a nós saudarmos essa iniciativa e dizer da importância de termos um órgão federal que leva a bandeira da educação midiática e, com isso, propaga esse conceito. Por outro lado, o EducaMídia, que é o programa de educação midiática do Palavra Aberta, se consolidou ainda mais nacionalmente. Nós tivemos duas formações de multiplicadores com participantes de mais de 550 cidades dos 27 estados. Para a gente é uma alegria enorme, pois não estamos falando somente do eixo Sul-Sudeste-Centro Oeste. Estamos falando de regiões do Brasil inteiro, cidades de todos os tamanhos. Então vemos que a educação midiática está sendo percebida como necessária e imprescindível para formar cidadãos aptos a atuarem nesse universo informacional tão complexo que a gente vive. 

Instituto Palavra Aberta – Quais são os principais desafios para 2024? 

Patricia Blanco – O desafio maior é ampliar o entendimento sobre o papel da educação midiática. Eu falo que a educação midiática tem uma série de benefícios que precisam ser entendidos na sua complexidade. Quando a gente fala de combate à desinformação, é um eixo da educação midiática. Quando a gente fala de participação cidadã, é outro eixo. Quando a gente fala em produção de conteúdo com responsabilidade e com ética, é outro eixo. Quando a gente junta esses três eixos, o da leitura crítica, da produção responsável de conteúdo e da participação cidadã, a gente tem de fato a educação midiática sendo utilizada em todo seu potencial. O potencial maior da educação midiática é justamente formar, criar, empoderar cidadãos aptos a exercerem sua plena liberdade de expressão e sua cidadania. Então acho que o desafio para 2024 é fazer com que este entendimento do papel amplo da educação midiática seja percebido por toda a sociedade. O ano de 2023 se mostrou um período, de um lado, muito propenso à inclusão da educação midiática e, por outro lado, trouxe muitos riscos à liberdade de imprensa e ao exercício da liberdade de expressão. Temos de manter os avanços que tivemos em 2023, que não tenhamos retrocesso em 2024, principalmente por conta da violência contra jornalistas, assédio judicial e outras questões que podem ofuscar o brilho do que a gente conquistou este ano. Para 2024, o lema é continuarmos vigilantes e atuarmos na defesa intransigente da liberdade de imprensa e de expressão. 

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