Como queremos enfrentar as “fake news”?
Como queremos enfrentar as “fake news”? https://www.palavraaberta.org.br/v3/images/folha-24_09-1024x683.jpg 1024 683 Instituto Palavra Aberta https://www.palavraaberta.org.br/v3/images/folha-24_09-1024x683.jpgDaniela Machado, coordenadora do EducaMídia
A virada do calendário, infelizmente, não deixou para trás graves problemas que nos afligem já há algum tempo. Contrariando a lista de desejos de Réveillon de muita gente, a pandemia de coronavírus e o surto de desinformação nas mais diversas áreas, incluindo a da saúde, insistem em nos acompanhar neste início de 2022.
As “fake news” não dão trégua — espalhadas tanto por quem ainda não percebeu sua responsabilidade no universo da informação como por pessoas mal intencionadas que, mesmo sabendo que estão diante de dados falsos, os compartilham para gerar medo e propagandear seus pontos de vista (ainda que não sejam confirmados pela ciência e pela realidade).
À medida que nos aproximamos de uma nova eleição, a tendência é de que essa guerra de narrativas se intensifique e que as campanhas políticas sejam recheadas de mensagens desencontradas sobre os estragos da Covid-19 na saúde ou na economia do país.
Como podemos, então, nos preparar para lidar melhor com esses desafios? Não há bala de prata, ou seja, nenhuma iniciativa isolada vai dar conta de um problema tão gigantesco e com tantas nuances como o das “fake news”. Mas diversas ações de educação mundo afora vêm mostrando que todos nós temos algo a aprender sobre o universo da informação (e da desinformação).
Não se trata de imaginar que exista um grupo de pessoas “iluminadas” que nunca espalham ou caem em “fake news” e, portanto, devem ensinar o restante da sociedade como se comportar. Longe disso.
O que uma educação para a informação (ou educação midiática) propõe é que escolas, bibliotecas e comunidades criem oportunidades para que crianças, jovens e adultos reflitam sobre sua responsabilidade ao lidar com a informação, pratiquem a leitura crítica de dados e mensagens, discutam seus pontos de vista a partir de evidências e criem conteúdos para se expressar com ética e respeito, participando ativamente da sociedade conectada.
Ainda que uma parte da população espalhe desinformações intencionalmente, temos que manter a fé de que outras tantas pessoas o fazem porque ainda não encontraram um espaço em que possam discutir um pouco mais sobre a maneira como nos comunicamos. Ou será que todas as crianças e adolescentes que, cada vez mais cedo, têm contato com o mundo digital entendem como um youtuber ganha dinheiro ou como funcionam os algoritmos que lhes recomendam novos vídeos? Ou será que todos os estudantes do país já nascem sabendo como fazer uma pesquisa na internet, avaliando a origem e a confiabilidade do que foi encontrado? Ou mesmo que adultos, que cresceram numa época em que havia poucas emissoras de rádio, TV e jornais, automaticamente compreendem a força das redes sociais que dão voz a tanta gente?
O olhar crítico diante de tantas novidades precisa ser construído todos os dias, e não de forma isolada como se uma única palestra pudesse resolver tudo magicamente — da mesma maneira como uma educação antirracista e antimachista não pode ficar confinada ao Dia da Consciência Negra ou ao Dia Internacional da Mulher.
Criar oportunidades para que todos possam trocar experiências, aprender e ensinar sobre o universo da informação é, sem dúvida, um caminho fundamental. Ainda que não resolva por completo o problema da desinformação, ao menos dá a chance para que cada um tome decisões mais conscientes sobre seu papel ao consumir, produzir ou compartilhar mensagens.