Falta de checagem é calcanhar de Aquiles das vítimas de golpes

Falta de checagem é calcanhar de Aquiles das vítimas de golpes 1024 683 Instituto Palavra Aberta
Bruno Ferreira*

📸: jcomp

Com frequência, somos surpreendidos por notícias sobre novos golpes, sobretudo pela internet. Recentemente, falsas propostas de emprego, com altos salários e excelentes condições de trabalho, fizeram com que algumas pessoas colocassem em risco seus dados pessoais. Nesta nova abordagem, golpistas enviaram links via SMS ou Whatsapp, que funcionam como porta de entrada para nossos dispositivos e aplicativos, inclusive os de banco. Nesse processo, inúmeras pessoas tiveram suas contas bancárias invadidas e manipuladas por bandidos.

Dados recentes de um levantamento produzido pelas empresas Mobile Time e Opinion Box revelam que 43% dos usuários do Whatsapp já receberam mensagens golpistas. Em junho de 2022, o Radar Febraban, levantamento da Federação Brasileira de Bancos, mostrou que 31% dos brasileiros afirmam já terem sido vítimas de algum tipo de fraude financeira, dez por cento a mais que no ano anterior.

Por mais que essa abordagem não seja exatamente inédita, pessoas desempregadas ou em dificuldade financeira podem cair facilmente em apelos dessa natureza. Os golpistas dão pouco tempo para a reflexão do interlocutor, que tende a aderir rapidamente às mensagens, mobilizado por um falso senso de urgência ou por identificar na mensagem fraudulenta uma oportunidade de obter vantagens ou sanar necessidades.

Assim como as fake news ou outras formas de desinformação, os golpes são mensagens enganosas, mas que desejam tirar proveito individual e objetivo da vítima, como obter seu dinheiro ou apropriar-se de seus perfis nas redes sociais. Para enfrentá-los com menos ingenuidade, no entanto, vale a mesma orientação para quem se dispõe a entender se uma determinada informação é confiável ou não: o ceticismo saudável e a checagem.

Para exercitá-los, é preciso rejeitar o senso de urgência e desconfiar das vantagens que as mensagens golpistas afirmam oferecer. É preciso relacionar-se com essas mensagens com mais distanciamento, dando-se o direito de buscar informações que possam confirmar ou desmentir as informações que recebemos. Está aí, precisamente, o grande calcanhar de Aquiles dos golpes. As mensagens fazem sentido para as vítimas justamente porque reverberam seus desejos, ambições e necessidades.

Mas, quanto mais uma mensagem de mídia parece afagar nossas convicções ou nos aproximar de nossos desejos e necessidades, mais precisamos exercitar o ceticismo saudável, indagando a confiabilidade das mensagens que recebemos. Nesse sentido, alguns passos podem nos auxiliar nessa tarefa tão necessária nos dias de hoje. O primeiro deles, que garante a nossa segurança, é não tomar nenhuma atitude antes de verificar se o que recebemos é confiável. Isso vai desde não clicar em links enviados no contexto das mensagens até não realizar qualquer operação financeira, como transferências e Pix. 

Antes de qualquer atitude, é importante refletir sobre a intenção de quem enviou a mensagem, se ela não oferece vantagens fora do comum ou até mesmo, caso seja enviada por um perfil de uma pessoa conhecida, se ela costuma pedir dinheiro ou vender coisas pelas redes sociais. Não devemos, porém, nos limitar à desconfiança e paralisarmos diante de uma abordagem que, talvez, possa ser realmente uma boa oportunidade. Por isso, a segunda atitude a ser tomada é checar a confiabilidade da abordagem. E, para isso, é preciso recorrer a outras fontes de informação.

Se recebermos uma proposta de emprego pelo Whatsapp, vale usar um buscador para encontrar canais oficiais da empresa, nas redes sociais ou algum site institucional, em que ela esteja anunciando a vaga. Se um conhecido pede dinheiro pelas redes sociais ou Whatsapp, vale a pena pedir que mande um áudio para se certificar de que é ele mesmo quem está pedindo ou então telefonar para a pessoa, mais uma forma de se assegurar da legitimidade do contato. O mesmo vale para pessoas que anunciam produtos ou vantagens financeiras em suas redes sociais, pois o perfil delas pode ter sido invadido, algo cada vez mais recorrente nas plataformas de interação.

Novos golpes certamente surgirão à medida que novas tecnologias entrarem em nossas vidas. Ainda que os apelos sejam diferentes, o antídoto para evitar prejuízos pode ser o mesmo: desconfiar de ofertas e propostas atrativas ou vantajosas, em vez de responder prontamente à urgência da abordagem, buscar mais informações em outras fontes ou contactar pessoas e instituições por outros meios.

*Bruno Ferreira é assessor pedagógico do EducaMídia, programa de educação midiática do Instituto Palavra Aberta

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