Nosso comportamento nas redes impacta a vida das pessoas

Nosso comportamento nas redes impacta a vida das pessoas 640 427 Instituto Palavra Aberta
Mariana Mandelli*

Imagem: Nappy

Postar, arrepender-se, deletar: este ciclo faz parte da rotina de qualquer usuário de redes sociais. De anônimos a famosos, diariamente as pessoas apagam postagens de suas contas por inúmeros motivos. O caso mais recente foi o de uma ex-jogadora da seleção brasileira de vôlei, que divulgou em seu Instagram um vídeo em que dizia ser “contra a vacina”, mas que tomaria a dose de uma determinada empresa pois “quer viajar o mundo”.

Criticada por se posicionar de forma negacionista, por escolher o imunizante e por espalhar desinformação em um cenário pandêmico trágico como o do Brasil, ela retirou o conteúdo do ar, sob a justificativa de que teria sido mal interpretada. Tarde demais: a mensagem havia viralizado e até agora é facilmente encontrada em qualquer plataforma, bem como em qualquer portal de notícias.

Na internet, as coisas não desaparecem o botão delete tem funções limitadas na dinâmica das redes sociais e, como diz o bordão, “o print é eterno”. Isso porque, a partir do momento em que publicamos algo, perdemos o controle sobre ele, para o bem e para o mal. Infelizmente, há uma série de dados que mostram que a desinformação, apelidada comumente de “fake news”, dissemina-se numa velocidade muito superior às informações verdadeiras. 

No caso do Twitter, por exemplo, essa diferença chega a ser seis vezes superior, segundo um estudo do Laboratório de Mídia do Massachusetts Institute of Technology (MIT) publicado em 2018. A pesquisa também desconstruiu um dos grandes mitos das redes: são as pessoas, e não os robôs, as verdadeiras responsáveis por espalhar mentiras e boatos, especialmente sobre política

Apesar de se referir a uma plataforma digital específica, a dinâmica revelada pelo MIT é semelhante ao que acontece em outros aplicativos. E é justamente essa lógica que faz com que vídeos como o da ex-atleta citada no início deste texto ganhem mais projeção do que, por exemplo, as postagens de esportistas que se vacinaram e fizeram publicações em defesa da imunização e da saúde pública.

Na impossibilidade de fiscalizar o volume estratosférico de mensagens publicadas a todo instante na web, inclusive em termos legais, não há outra alternativa que não seja a consciência individual de que cada um de nós somos produtores de conteúdo e, por que não, microinfluenciadores nas nossas bolhas. E isso exige responsabilidade.

Ao pensarmos na nossa pegada digital, é preciso extrapolá-la para além das questões de segurança e privacidade, refletindo também sobre a identidade que construímos nas redes ou seja, a forma com que os outros nos vêem por meio do que fazemos online. 

Rastro (ou pegada) digital refere-se ao conjunto de dados registrados a cada vez que clicamos em algo na internet. São informações sobre nossas preferências que são armazenadas em páginas e sites, incluindo mecanismos de busca e plataformas sociais. Costumamos pensar nesse conceito em debates sobre algoritmos e golpes, e esquecemos que o caminho que percorremos virtualmente também afeta outros usuários por meio das nossas curtidas, comentários e compartilhamentos. 

Ao amplificarmos um discurso conspiratório ou antivacina, mesmo que seja para condená-lo, estamos fazendo um péssimo uso dessa identidade digital, por exemplo. E, mesmo que apaguemos a postagem posteriormente, com certeza ela já terá impactado conhecidos e desconhecidos, sem sabermos que uso essas pessoas farão do conteúdo.

Pessoas tomam decisões baseadas nas informações que possuem se forem falsas, essas escolhas terão consequências sérias na vida delas e também na de quem as cerca, como estamos vendo acontecer com a imunização contra a Covid-19 no Brasil.

Vivemos um momento em que é preciso repetir incessantemente aquilo que muitas vezes parece óbvio. É necessário, portanto, tirarmos certos comportamentos do modo automático e nos questionarmos a cada passo que damos nas redes. Isso vale para selfies, fotos de comida, GIFs de gatinho, memes políticos, notícias de Brasília e, como não poderia deixar de ser, para vídeos de celebridades tomando (ou não) vacina.

 

*Mariana Mandelli é coordenadora de comunicação do Instituto Palavra Aberta

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