Por que a democracia é assunto de escola?

Por que a democracia é assunto de escola? 1024 683 Instituto Palavra Aberta
Elisa Tobias*

Imagem: Ying Ge | Unsplash

“A democracia serve para todos ou não serve para nada.” Como bem afirmou o sociólogo Betinho, entender a importância da democracia para a sociedade é uma discussão para todas as idades. Nesse sentido, a educação midiática oferece ferramentas para apoiar o exercício da cidadania e o fortalecimento da democracia para crianças e jovens, promovendo discussões que podem gerar verdadeiras transformações dentro e fora da escola.

Uma efeméride que pode ser trabalhada em sala é o Dia Internacional da Democracia. Celebrada no dia 15 de setembro, a data é uma oportunidade de chamar a atenção para um dos principais pilares para que ela aconteça: o diálogo. Em meio à disputa de narrativas políticas em que o País vive, o diálogo em prol da democracia se torna urgente e necessário. É preciso que as crianças e jovens compreendam as possibilidades, efeitos e impactos que o sistema democrático tem em suas vidas e o que a ausência desse regime pode causar.

Garantir que a escola seja um espaço democrático para todos os alunos também é uma forma de assegurar que eles tenham contato com o tema desde a infância. As escolas são espaços excelentes para que eles opinem sobre assuntos que os afetam e tenham seus pontos de vista levados a sério. Organizações como o grêmio estudantil são importantes para mostrar que as demandas dos estudantes devem ser ouvidas, tornando real o contato com a participação democrática desde cedo.

Um bom exemplo disso acontece na França. No projeto “Pequenos passos para a democracia”, desenvolvido na École des Marronniers, os alunos são consultados sobre as decisões que ocorrem na escola, e aprendem a colaborar com crianças de outras culturas e línguas. Durante o período do recreio a pedido dos representantes dos anos anteriores todos participam de uma formação em resolução de conflitos para os alunos, mediada pelos professores. 

Os problemas encontrados para além dos muros da escola também podem ser debatidos durante as aulas, como forma de incentivo à participação cívica. E isso pode ser feito utilizando as ferramentas da educação midiática. Ao analisar criticamente reportagens sobre serviços públicos disponíveis no bairro da escola, pesquisar e selecionar informações confiáveis, os estudantes realizarão mais do que um exercício de análise crítica da mídia. Na verdade, eles terão o conhecimento necessário para amplificar suas vozes em uma sociedade em que nem todos sabem exercer seus direitos de cidadão. 

Um dos vencedores da última edição do Prêmio Educador Nota 10, o professor de geografia Diogo Jordão, que leciona em uma escola pública de Campos dos Goytacazes, no Rio de Janeiro, desenvolveu um projeto que incentiva o uso fortalecedor das mídias e a defesa da democracia. Em “Nos Trilhos da Democracia”, o desafio era trazer os problemas do dia a dia para a sala de aula. Os alunos realizaram intervenções na comunidade, mapeando problemas e discutindo soluções. Como resultado, levaram as conclusões de seu trabalho para uma vereadora em exercício. 

A educação midiática pode apoiar a criação de soluções para os problemas reais que os alunos e professores enfrentam. Seja criando propostas para a sua escola ou comunidade, produzindo materiais, registrando narrativas, criando campanhas utilizando as mídias, ela é um bom incentivo para que os mais jovens tenham interesse pelas decisões políticas ou saibam resolver conflitos do cotidiano.

O educador norte-americano Mark Prensky ressalta: “Muito mais eficaz é nos concentrarmos desde o início do processo educativo em preparar um mundo melhor, formando crianças adaptadas a um mundo líquido, dotadas de empatia e desenvoltas nas competências do século 21.” Ser educado midiaticamente é a chave para que as crianças e adolescentes estejam preparados para um mundo mais empático, em que utilizem a tecnologia para participar de forma positiva e democrática na sociedade.

*Elisa Tobias é educomunicadora formada pela Universidade de São Paulo (USP) e analista de comunicação do Instituto Palavra Aberta 

 

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