5 momentos em que a educação midiática foi fundamental em 2022

5 momentos em que a educação midiática foi fundamental em 2022 1024 683 Instituto Palavra Aberta
Mariana Mandelli*

📸: dashu83

Antes mesmo dos relógios marcarem os primeiros minutos do dia 1 de janeiro de 2022, a expectativa geral era de que um ano no mínimo complicado nos esperava, especialmente no que dizia respeito ao cenário político nacional. A probabilidade de uma eleição disputadíssima num contexto altamente polarizado, o que os resultados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) apenas confirmaram, já tinha tomado forma meses antes do início oficial das campanhas dos candidatos e candidatas.

Como se não bastasse um pleito eleitoral nesse contexto, em que a liberdade de expressão e de imprensa estiveram novamente no alvo do debate público, 2022 ainda foi marcado pela continuação da pandemia de coronavírus e o surgimento de novas doenças que chegaram ao Brasil, como a varíola dos macacos; pela tensão geopolítica entre Rússia e Ucrânia, cujos efeitos econômicos afetaram fortemente diversas commodities, como as agrícolas; e pela Copa do Mundo no Qatar, que provocou intensos debates sobre a escolha do país árabe pela Fifa.

As formas pelas quais tomamos conhecimento desses fatos nacionais e internacionais e acompanhamos seus desdobramentos são cada vez mais múltiplas, com diversas possibilidades de formatos e narrativas. O potencial dessa variedade de fontes e conteúdos é dúbio: se por um lado há diversidade de pontos de vista e discursos —o que é muito positivo—, por outro temos uma infinidade de desinformação de todos os tipos influenciando as maneiras pelas quais vivenciamos o mundo, moldando nossas opiniões e, para muitos, os próprios fatos.

Enquanto não tivermos a consciência de que os modos pelos quais produzimos e consumimos informação afetam todas as esferas da nossa vida social, da saúde à educação públicas, passando pelos nossos relacionamentos interpessoais, não veremos progresso no que tange à estancar a profusão de fake news que confundem, manipulam e incitam violência e até mortes. Olhar para o que aconteceu em 2022 em termos de informação e desinformação é uma maneira de refletirmos sobre o que estamos realmente fazendo para fortalecer a nossa democracia e para mitigar os efeitos de tudo o que tenta corroê-la.

Abaixo estão cinco dos momentos em que uma educação midiática voltada para o pensamento crítico foi fundamental neste ano.

Eleições 2022: como se esperava desde o pleito de 2018, a campanha eleitoral deste ano foi marcada por um volume de desinformação inédito, em proporções avassaladoras. Somente entre junho e os primeiros dias de outubro, o TSE recebeu mais de 21 mil denúncias de fake news. Se pensarmos que a maior parte da desinformação sequer é reportada, mesmo porque há uma grande parcela da população que acredita nessas mensagens, esse número deve ser incrivelmente maior. Vimos também a disseminação de uma variedade sofisticada de técnicas para desinformar eleitores e eleitoras sobre candidaturas, partidos e instituições, que vão de disparo em massa de conteúdos por WhatsApp, Telegram e SMS, até firehosing, deepfakes, click-bait, informações tiradas de contexto e discursos de ódio, entre outras.

Liberdade de expressão em debate: o alto volume de desinformação pressionou plataformas digitais e instituições políticas a tomarem medidas para reter o problema, o que resultou na remoção de conteúdos e bloqueio de contas, canais e perfis de influenciadores digitais e políticos nas redes sociais. Por conta disso, a discussão em torno dos limites da liberdade de expressão e de imprensa e, consequentemente, de possíveis mecanismos de censura, tomaram o debate público, A disputa em torno do papel das big techs, dos agentes públicos e da sociedade civil nessa conjuntura foi bastante tensa e promete ter desdobramentos em 2023.

Copa do Mundo: um dos megaeventos mais aguardados, a Copa do Mundo é um acontecimento colossal em termos esportivos, jornalísticos e publicitários, tornando-se praticamente a pauta única durante as semanas em que ocorre. Consequentemente, o fluxo de informações referente ao mundial, cuja edição 2022 foi realizada no Qatar, rendeu uma enxurrada de notícias e memes sobre jogadores, seleções e seus respectivos países. Contudo, o que pode ser uma boa oportunidade para ter contato com diferentes culturas, aprender sobre costumes locais e compreender dinâmicas geopolíticas diversas, pode se transformar na disseminação de desinformação e discursos de ódio, como se viu em mensagens islamofóbicas e racistas nas mídias sociais

Varíola dos macacos: enquanto vivíamos a pandemia de COVID-19, cujo vírus segue, ainda que em menor escala devido às vacinas, contaminando e vitimando pessoas diariamente, surgiram as primeiras notícias internacionais sobre a varíola dos macacos. Dúvidas sobre a causa, o surgimento, a transmissão e os sintomas povoaram timelines e buscadores, exigindo a procura por fontes confiáveis de informação. A ausência de campanhas públicas dos órgãos de saúde no Brasil contribuíram para que houvesse desinformação sobre a doença, reforçando medos e preconceitos, inclusive em relação ao nome da doença e os grupos de risco.

Guerra entre Rússia e Ucrânia: A invasão do território ucraniano pela Rússia iniciada em fevereiro já provocou milhares de mortes, mas o número real ainda é desconhecido por conta da difusão de narrativas políticas e da dificuldade de se apurar informações nesse contexto. Em meio a efeitos humanitários devastadores, a ONU calcula que 14 milhões de pessoas foram obrigadas a deixarem suas casas, sendo que, destas, 8 milhões tiveram de migrar para outros países. Diferentemente de guerras anteriores, a cobertura noticiosa do conflito não se encontra somente em veículos de comunicação, mas também nas mídias sociais, com a possibilidade de acompanhar repórteres, civis e refugiados em tempo real e consumir vídeos em plataformas como o YouTube e o TikTok. No entanto, esse processo também tem provocado, nessas mesmas redes, uma onda de conteúdos revisionistas e enviesados, que distorcem fatos históricos, bem como manifestações de russofobia.

*Mariana Mandelli é coordenadora de comunicação do Instituto Palavra Aberta

 

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