Cultura do encontro

Cultura do encontro 550 345 Instituto Palavra Aberta

* Patricia Blanco

Visitantes de todo o mundo foram tratados com dignidade, elegância e carinho. Isto aconteceu em toda a vasta geografia brasileira, de norte a Sul, sempre aos olhos do mundo. A liberdade foi exercida em sentido pleno, sem nada que afetasse o direito de ir e vir dos torcedores, estivessem eles nas arquibancadas ou nas ruas. Claro que houve alguns protestos, mas nada, porém, de proporções ou que fosse indicativo de imaturidade. Ao contrário, nos estádios, nas ruas, nos bares e nos clubes, o tom dominante foi da unidade na multiplicidade.

Brasileiros e visitantes pareciam um só. Para o Brasil veio gente de todas as partes do mundo. Um autêntico caleidoscópio globalizador: diferentes nacionalidades, raças, religiões, visões políticas, enfim, o povo inteiro parecia caber nos estádios. Somente da vizinha Argentina vieram cerca de 100 mil pessoas. Houve esportividade e humor.

Jogadores e turistas se misturaram e o que se viu, além do recorde de gols, foi que a Copa das copas será lembrada pela referência civilizatória que preponderou. A decisão final entre Alemanha e Argentina (com placar de 1 a 0 para a equipe alemã) foi assistida por mais de um bilhão de pessoas, em mais de duas centenas de países. Um grande encontro, uma nova cultura ganhando forma. A cultura do entendimento, em harmonia com os novos tempos de democracia como valor universal.

No princípio, pensou-se que seria diferente. Acreditava-se que as manifestações contrárias à Copa incendiariam o País. Acreditava-se que grassaria a radicalização e o vandalismo. E que os visitantes seriam hostilizados. Aconteceu exatamente o contrário. O entendimento foi fácil. Prevaleceu a cordialidade e a magia do calor humano. O humanista Sérgio Buarque de Holanda, celebrado autor de Raízes do Brasil, veria nos acontecimentos a confirmação de suas teses. O brasileiro é cordial Não no espelho de água. Mas nas camadas mais profundas da vida.

Nesse ambiente, o que se pode esperar do futuro? Se a Copa pode ser entendida como uma metáfora da vocação pacifista da sociedade brasileira, a tendência é que a cultura do encontro se desdobre na indispensável cultura do diálogo. E que os impasses convirjam para a busca de soluções, não para o acirramento dos conflitos. Lidar bem com a diferença parece ser uma vocação brasileira.

A mensagem é clara. Terminada a Copa, festa do futebol mundial, agora iremos para as eleições de outubro. Festa da democracia, que se renova com a sétima eleição direta para a presidência da República. Será uma disputa intensa, mas nada que esteja fora do jogo, às vezes duro, da democracia.

* Patricia Blanco é presidente executiva do Instituto Palavra Aberta

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