Time e os guardiões da verdade
Time e os guardiões da verdade https://www.palavraaberta.org.br/v3/images/time-guardians-war-on-truth_x630.jpg 632 300 Instituto Palavra Aberta https://www.palavraaberta.org.br/v3/images/time-guardians-war-on-truth_x630.jpgFrancisco Viana*
Pela primeira vez desde 1927, quando a distinção “Pessoa do Ano” começou a existir, um grupo de jornalista foi homenageado pela prestigiosa revista americana Time. A lista é encabeçada pelo jornalista saudita Jamal Khashoggi, assassinado em 2 de outubro deste ano no consulado do seu país em Istambul. Divide a distinção com a jornalista filipina Maria Ressa, perseguida pelo Governo local, e dois repórteres da Agência Reuters que estão presos por força dos seus escritos, Wa Lone e Kyaw Soe Oo, da Birmânia. Além disso, a Time destaca o trabalho do jornal de Annapolis (Maryland, EUA), a Capital Gazette, que teve cinco funcionários mortos em atentado perpetrado em 28 de junho.
A revista Time anunciou sua decisão com reportagem de capa sob o título “The guardians and the war on truth” (“Os guardiãs e a guerra da verdade” ).
No ano passado, a Time dedicou seu reconhecimento às mulheres que romperam o silêncio contra o assédio sexual. Ao longo dos anos, além de homenagear personalidades que despertaram admiração do mundo, dedicou seu reconhecimento também à personalidades que chamaram atenção da mídia, a exemplo de Adolf Hitler(1938), Josef Stálin (1939 e 1942) e seu herdeiro político, Nikita Kruschev (1957), e o aiatolá iraniano Khomeini ( 1979).
A homenagem da Time chega num momento em que a liberdade de imprensa é hostilizada por toda parte. A expectativa é que com a homenagem da revista venham a ocorrer mudanças na atitude dos governos com relação aos jornalistas e da percepção da sociedade da importância do jornalismo profissional.
Foi o que aconteceu nos Estados Unidos e no resto do mundo depois das denúncias de assédio. A revista chamou as mulheres pioneiras nas denúncias “The silence breakers” (“As que quebram o silêncio”). O movimento tornou-se vitorioso e vem provocando grandes mudanças sociais. Ocorrerá o mesmo com os atentados com os jornalistas? A expectativa é das mais positivas.
*Francisco Viana é jornalista e doutor em Filosofia Política (PUC-SP).