Educar para o mundo conectado é desafio internacional

Educar para o mundo conectado é desafio internacional 1024 683 Instituto Palavra Aberta
Daniela Machado*

📸: freepik

Em meio a tantos desafios na área da educação, principalmente após a pandemia de Covid-19 ter forçado o fechamento das escolas, há um tema que vem sendo debatido com atenção em fóruns nacionais e internacionais: a necessidade de priorizar uma aprendizagem que dê mais voz aos estudantes, preparando-os para um mundo cada vez mais conectado.

No cenário almejado, crianças e jovens têm a oportunidade de desenvolver uma série de habilidades para lidar de forma mais crítica e responsável com a enxurrada de informações a que estão expostos diariamente — não apenas como consumidores, mas também como produtores de conteúdo. Assim, identificar fake news, avaliar a intenção das mensagens em qualquer formato de mídia, compreender os bastidores das redes sociais e a ação dos algoritmos, criar e compartilhar materiais criativos e confiáveis para melhorar sua comunidade são algumas das competências desejadas a partir de uma educação próxima da realidade dos próprios estudantes e, portanto, mais significativa.

É nesse contexto que tem crescido o debate sobre a importância e a urgência da educação digital e midiática em locais tão diversos como Brasil, Estados Unidos ou Ucrânia. Exemplos de programas desenvolvidos nesses e outros países foram relatados há pouco mais de um mês, em junho, durante um importante evento da área: a conferência anual da Associação Norte-Americana de Educação Midiática (Namle, na sigla em inglês). 

Segundo os organizadores, houve um surpreendente crescimento no interesse pelo tema entre a população em geral nos últimos anos. “No entanto, apesar do progresso óbvio, ainda nos encontramos lutando para implementar a educação midiática em nível nacional e global (…) Ainda estamos muito longe de uma mudança sistêmica na educação, uma mudança que priorize a importância da construção de habilidades de alfabetização midiática em todas as disciplinas e faixas etárias.”

No Brasil, uma importante oportunidade se abre com a Política Nacional de Educação Digital, aprovada recentemente na Câmara dos Deputados. O projeto de lei, de autoria da deputada Angela Amin (PP-SC), vai além do acesso e uso das tecnologias e incorpora diversos temas caros à educação midiática, como o olhar crítico para consumir e produzir conteúdos e a autoexpressão como forma de participação cívica dos jovens. Durante o debate do projeto, que ainda precisa passar pelo Senado, o Instituto Palavra Aberta trabalhou para que a educação digital tivesse essa abordagem mais ampla, incluindo as reflexões necessárias para o uso responsável, crítico e reflexivo do universo digital.

A conferência da Namle, com apresentações de iniciativas e projetos por quase 100 participantes, deixou claro que a educação midiática é o caminho necessário não apenas para formar jovens aptos a lidar com o ambiente digital, mas principalmente para que entendam o alcance e as consequências do que podem fazer — para o bem ou para o mal. Iniciativas envolvendo escolas, bibliotecas ou mesmo ambientes informais de educação, como centros comunitários, apontaram caminhos diversos pelos quais o letramento da informação pode acontecer. Mas todos com um destino comum: formar uma geração de consumidores e produtores de conteúdo capazes de entender seu importante papel na sociedade conectada, atuando com criticidade e responsabilidade.

O grau de educação midiática de uma sociedade é especialmente importante em momentos como este no Brasil, em que dependemos de informações de qualidade para tomar as melhores decisões em uma eleição. Com o projeto #FakeToFora — Quem Vota Se Informa, o EducaMídia também marcou presença na conferência da Namle. Ainda que o projeto tenha sido desenvolvido especificamente para o contexto eleitoral brasileiro, houve o reconhecimento do público de que educação política também demanda educação para as mídias em todos os lugares. É por meio da maneira como nos relacionamos com a informação, em qualquer formato ou dispositivo, que o debate respeitoso e frutífero de ideias acontece, fortalecendo a democracia. 

 

*Daniela Machado é coordenadora do EducaMídia, programa de educação midiática do Instituto Palavra Aberta

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