
Combate ao bullying e outras violências exige esforço coletivo
Combate ao bullying e outras violências exige esforço coletivo https://www.palavraaberta.org.br/v3/images/RDNE-Stock-project-1024x683.jpg 1024 683 Instituto Palavra Aberta https://www.palavraaberta.org.br/v3/images/RDNE-Stock-project-1024x683.jpg*Daniela Machado é coordenadora do EducaMídia, programa de educação midiática do Instituto Palavra Aberta
O Dia Nacional de Combate ao Bullying e à Violência na Escola, relembrado nesta semana (7 de abril), é um convite para que as reflexões sobre como preparar crianças e jovens para uma experiência mais segura e consciente na internet sigam no radar de toda a sociedade. Muitos dos temas relacionados à data já vinham sendo discutidos intensamente nos últimos dias, tendo como mote a série fictícia “Adolescência” — que figura entre as mais assistidas da Netflix quase um mês após seu lançamento.
São muitas as violências expostas na produção: das mais óbvias, que envolvem o uso criminoso de redes sociais por pessoas e grupos radicais que incitam discriminação, misoginia e ódio, às mais sutis, que aparecem nas cenas em que professores gritam com suas turmas na escola ou quando o policial revela que nunca teve uma conversa mais profunda com o filho adolescente, entre outros exemplos.
Ainda que a série retrate situações variadas de agressões na internet e fora dela, é compreensível que reverberem com mais ênfase no debate público aquelas diretamente relacionadas aos ambientes digitais. É chocante, por exemplo, constatar que o quarto de casa não é, necessariamente, um local seguro para os filhos e filhas ou descobrir que há influenciadores de “sucesso” especializados em compartilhar e incitar discurso de ódio contra mulheres.
Muito já foi falado sobre a série. Ainda assim, vale reforçar que o cenário retratado é complexo e multifacetado e, como tal, não há como enfrentá-lo sem um esforço coletivo. Nela, reconhecemos a necessidade de discutir mais profundamente questões como a regulação de plataformas e a disposição das empresas de tecnologia em aprimorar seus sistemas de detecção de conteúdo inapropriado e criminoso. Mas também a urgência de conscientizar familiares e responsáveis, além dos próprios adolescentes, sobre os gigantescos desafios a que estamos expostos. A cultura de não-violência demanda um compromisso de todas as pessoas para que seja permanentemente incentivada e praticada. Como isso se traduz em atitudes no dia a dia? Do ponto de vista da educação midiática, que preza por uma relação mais crítica e responsável de todas as pessoas com as informações que recebem ou produzem, há várias contribuições:
– Acompanhar as atividades online de crianças e adolescentes e incentivar que questionem aquilo que estão lendo ou assistindo: quem produziu esse conteúdo, e com qual intenção? Esse conteúdo pode ofender ou magoar alguma pessoa ou grupo? Por quê?
– Discutir o conceito de empatia e como uma mensagem vista como meme ou piada pode afetar pessoas ou grupos: o conteúdo desmerece ou tira sarro de alguém? A informação é ofensiva para pessoas de outro gênero, raça ou nacionalidade? Eu falaria a mesma coisa se estivesse em uma conversa presencial?
– Orientar crianças e adolescentes a não responder provocações em grupos de mensagem ou redes sociais, e procurar familiares ou a escola caso perceba alguma situação desconfortável ou abusiva naqueles ambientes;
– Conhecer os ídolos e influenciadores mais admirados pelos filhos e filhas e participar, com eles, de uma análise mais cuidadosa dos discursos e valores disseminados por essas figuras;
– Evitar a superexposição online e discutir os riscos de compartilhar imagens mesmo em grupos fechados e de que participam apenas pessoas conhecidas;
– Antes de participar de um grupo ou comunidade online, conversar sobre o perfil dos demais participantes e o conteúdo que costuma ser compartilhado;
– Informar-se sobre as consequências jurídicas de um ato criminoso cometido em ambientes online e explicá-las para os adolescentes;
– Estabelecer regras claras e um “plano de mídias” da família, para que todos estejam comprometidos com um uso mais intencional, consciente e equilibrado das telas.
Diálogo, afeto e transparência são ingredientes importantes de uma educação que visa a construção gradual de autonomia e resiliência dos jovens.