O Brasil que inspira na educação midiática

O Brasil que inspira na educação midiática 1024 683 Instituto Palavra Aberta

Daniela Machado é coordenadora do EducaMídia, programa de educação midiática do Instituto Palavra Aberta*

De políticas públicas a exemplos do “chão da escola”, a educação midiática começa a se enraizar no Brasil. Os processos que levam ao desenvolvimento de uma série de habilidades para lidar com o universo da informação de forma mais consciente e segura já vinham ganhando espaço em documentos oficiais — e agora também se ampliam nas salas de aula e em ambientes não-formais de educação.

Na semana passada, o 3.º Encontro Internacional de Educação Midiática reuniu em Brasília (DF) especialistas, formuladores de políticas públicas, educadores e estudantes para reforçar a urgência do tema e celebrar avanços. Foi especialmente impactante acompanhar a diversidade de abordagens e ações, pensadas para cada público (crianças, jovens, adultos e idosos) e contexto (regional, social e cultural).

Sem menosprezar os riscos dos ambientes digitais, os participantes discutiram suas possibilidades. “A internet tem perigos, mas a internet também tem potência”, afirmou a secretária de Educação Básica do Ministério da Educação (MEC), Katia Schweickardt, acrescentando que a restrição do uso de celulares na escola não significa ignorar sua existência. “Se era necessário um freio de arrumação, o que veio com a lei, é urgente avançar em iniciativas de educação midiática e digital (…) Não se trata de demonizar a internet.”

Também no evento, a coordenadora-geral de Tecnologia e Inovação do MEC, Ana Dal Fabbro, enfatizou a necessidade de repactuar os usos de tecnologia: “Fazer uso mais equilibrado inclui saber usar os dispositivos e saber a hora de não usar também. Essa conversa começa na escola, mas precisa se estender para a casa, para tirar os estudantes da posição de consumidores passivos (de conteúdo online) e conseguirem criar e usar de maneira ética e crítica.”

Kenio Costa de Lima, da Secretaria Nacional da Pessoa Idosa (Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania), destacou a importância da educação digital e midiática para a população fora da escola. Se hoje muitas das nossas interações com o mundo são mediadas por dispositivos digitais, “como podemos falar em cidadania se algumas pessoas não podem sequer acessar o SUS Digital?”, questionou. Ele lembrou que há um grupo significativo de idosos não alfabetizados, uma “vulnerabilização histórica” que se agrava com o avanço das tecnologias. Para Kenio, é preciso entender as necessidades comunicacionais específicas dessas pessoas para enfrentar o que chamou de “violência digital”.

O olhar atento para cada grupo ou situação, aliás, é o que faz com que a educação midiática se concretize de tantas maneiras. Conheça algumas dessas possibilidades, apresentadas no encontro de Brasília:

– O Programa USP60+ incluiu a inclusão de aulas sobre desinformação, golpes, redes sociais e inteligência artificial em sua trilha, proporcionando debates e reflexões sobre o comportamento online de cada um;

– Representantes do Instituto Anísio Teixeira, na Bahia, e da MultiRio, no Rio de Janeiro, mostraram projetos voltados para o letramento informacional dos estudantes de suas redes por meio da criação de agências de notícias nas escolas;

– O combate à desinformação foi o recorte escolhido pelos professores José Hiago e Manoel Messias (PB) e Ronney Santos (SE), que apresentaram a experiência de mediar a criação de “clubes de checagem” de informações por seus alunos. Em um dos casos, a checagem foi feita em tempo real, enquanto candidatos das últimas eleições foram sabatinados em uma atividade dentro da escola;

– Na região Norte, o exemplo apresentado conecta-se com a importância de acessar informações de qualidade sobre a Amazônia e a crise climática. A professora Marcela Castro e o estudante Antonio Nascimento contaram sobre a experiência dos alunos ao revisar textos e participar da construção das notícias do Amazônia Vox, em um projeto que aproxima as novas gerações do jornalismo profissional.

São muitas as possibilidades da educação midiática. Não importa o público, a abordagem ou a estratégia; o que importa é abrir esse caminho o quanto antes.

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