
O que são perfis dix e por que os pais de adolescentes devem estar alertas
O que são perfis dix e por que os pais de adolescentes devem estar alertas https://www.palavraaberta.org.br/v3/images/captura-de-tela-2025-06-05-100204-e1749128866226.png 650 436 Instituto Palavra Aberta https://www.palavraaberta.org.br/v3/images/captura-de-tela-2025-06-05-100204-e1749128866226.pngMariana Mandelli é coordenadora de comunicação do Instituto Palavra Aberta*
Compreender como a Geração Z interage nas redes sociais pode ser um desafio complexo e cheio de mistérios para mães, pais e professores. Um exemplo é uma prática atual que gerou debate no início do mês passado: a criação, por adolescentes, dos chamados perfis dix em plataformas digitais como o Instagram.
Dix significa, na linguagem dos mais jovens, “deixar”. A proposta desse tipo de conta é ser privada e restrita, mas também espontânea e sem muita edição. Ou seja: a ideia é não se preocupar como as fotos e vídeos ali compartilhados serão recebidos — afinal, a audiência é, em tese, exclusiva e de confiança. É comum, portanto, que os adolescentes mantenham um perfil aberto, seguido por familiares e conhecidos, e, paralelamente, um fechado para os melhores amigos.
O termo chegou às manchetes após uma polêmica envolvendo duas influenciadoras adolescentes, ambas com centenas de milhares de seguidores no TikTok, sendo que uma delas era a então namorada de um dos filhos dos apresentadores Angélica e Luciano Huck.
Todavia, para além de fofocas sobre a família de celebridades, é possível refletir de forma relevante sobre as formas com que os mais jovens têm usado os ambientes digitais, o que parece aprofundar ainda mais o abismo geracional entre eles e os mais velhos no que tange às novas tecnologias.
Ao passo que a criação desses perfis exclusivos é reveladora de como os adolescentes entendem alguns dos efeitos de estar online o tempo todo, já que associam isso aos riscos da superexposição e à consequente demanda por mais privacidade, restringir postagens a um círculo em que não há nenhum adulto responsável pode ser perigoso.
Isso porque as plataformas digitais não são seguras para crianças e jovens como eram os diários de papel ou como são as sessões de terapia e os desabafos cara a cara com amigos. São espaços criados, mantidos e mediados por empresas com interesses próprios e exigem autonomia, pensamento crítico e responsabilidade para serem navegados.
Por mais que sejam nativos digitais — ou seja, nasceram em um mundo conectado —, os adolescentes ainda necessitam desenvolver essas e outras habilidades. Precisam, inclusive, ter consciência de que privar um perfil não garante que não haja vazamento do seu conteúdo: afinal, o print é eterno e, ao ser tirado de contexto, pode causar danos irreversíveis.
Para ser saudável e positiva, a relação com as tecnologias deve incluir mediação e supervisão de adultos, o que pode variar de acordo com a idade e o grau de maturidade do jovem. Mães, pais e demais responsáveis precisam acompanhar de perto as vivências virtuais dos filhos e filhas, informando-se sobre os aplicativos que estes usam, com que frequência e de que maneiras, mesmo que isso rivalize com o desejo deles por privacidade e distanciamento.
O diálogo precisa ser constante justamente para que os acordos estabelecidos sejam respeitados e mitiguem situações de vulnerabilidade em uma fase da vida em que os hormônios e as emoções estão em plena ebulição, orientando o desejo por pertencimento e borrando noções de moralidade.
Nesse sentido, é válido lembrar da série “Adolescência”, da Netflix, alvo de infinitas análises nos últimos meses. Ainda que seja uma obra de ficção, ela já tinha mostrado que os usos que os mais jovens fazem das redes sociais passam pela criação de novos códigos e símbolos com sentidos distintos do que os adultos imaginam. A cena mais ilustrativa desse movimento é justamente uma conversa entre pai e filho.
Com uma cultura digital em constante e rápida transformação, os modos com que a Geração Z cria e recria a sua presença digital podem ser tão fluidos e efêmeros quanto uma timeline. Cabe aos adultos uma posição de escuta e diálogo, para que a confiança seja algo presente nas relações familiares — e não destinada apenas a seguidores seletos de perfis fechados no Instagram.